Hoje eu me livrei de uma pulga atrás da orelha.
Rato supercurioso que sou, tenho um montão delas vivendo aqui comigo diariamente.
Tinha uma que ficava me perguntando como seria se eu pudesse virar índio, morar na floresta, comer beiju (outro nome da tapioca), tomar banho no rio, caçar tatu, dormir na rede. Já pensou nisso?
Fucei, fucei, fucei e encontrei os filmes dos cineastas indígenas do Vídeo nas Aldeias, um projeto que apoia a luta dos povos indígenas para fortalecer sua identidade e preservar seus lugares e modos de viver.
No filme Das Crianças Ikpeng para o Mundo, conheci uma turma superanimada que me contou como é ser curumim (como são chamadas as crianças indígenas), de um jeito bem lindo e divertido! Yampï, Yuwipó, Kamatxi e Eruwó mostraram o que fazem todo dia na aldeia Ikpeng, que fica no norte do estado de Mato Grosso.
Conheci a roça de mandioca, o galinheiro, o macuco (um pássaro), a mangaba (uma fruta de comer no pé), a waiman (uma tartaruga do rio), a menkwa (uma flor docinha de fazer mingau) e uma armadilha para peixes feita de timbó (um cipó venenoso que deixa os peixes meio grogues, facinhos de pegar). Teve até uma aula de fazer flecha e avião de brinquedo com madeira catada no mato!
Aí eu descobri também os livros da coleção Um Dia na Aldeia, da editora Cosac Naify, que contam histórias adaptadas de alguns filmes do Vídeo nas Aldeias.
Uma preciosidade! Histórias incríveis contadas em vídeos, palavras e desenhos de encher os olhos!
Aqui vai um gostinho:
Palermo e Neneco. Esses irmãos, do povo Mbya-Guarani, dão um jeito de se divertir em tudo o que fazem. Gostam de colher palmito e cortar madeira, de Michael Jackson e de festas com cantoria. Usam dinheiro para comprar sabão nas fazendas vizinhas, mas nem sempre o contato com os brancos é amigável. Veja o filme abaixo!
No Tempo do Verão. Na aldeia Ashaninka, verão é tempo de farra de passarinho, pé de fruta carregado e pescaria em família. As crianças deixam de ir à escola para aprender com os mais velhos a vida na floresta. Tayri, Piyãko e Bianca contam suas descobertas mais divertidas. Veja o filme abaixo!
Depois do Ovo, a Guerra. Os meninos Panará brincam de reviver a antiga guerra do seu povo contra os inimigos Txucarramãe. Pintam o corpo, cortam os cabelos e fabricam as armas para celebrar a história. No corre-corre da brincadeira, sobram boas risadas. Veja o filme abaixo!
Fiquei pensando: e se eu tivesse que contar a minha vida para os meus novos amigos indígenas? O que eu diria?
Acho que contaria que moro na Avenida Paulista, em São Paulo. Que gosto de livros e museus. Que tomo banho de chuveiro bem rapidinho. Que sei fazer pão na chapa com queijo derretido que estica bem longe. Que sei pilotar uma mochila-foguete e que queria dar uma carona para eles virem conhecer o meu mundo!
E você? Que partes do seu mundo gostaria de mostrar para esses amigos?
Ilustrações: Mariana Zanetti e Rita Carelli