Keri Smith é uma artista canadense que escreve muitos livros para crianças e adolescentes. Não que eles sejam legais só para pequenos, mas acho que a galera da nossa idade acaba se interessando mais pelo que ela faz.
Bom, o lance dela como autora é chamar a atenção para os detalhes do mundo à nossa volta. Para mim, ela funciona igual à voz que mora dentro do meu cérebro e me diz o que observar, explorar e registrar daquilo que passa por mim. É uma voz ativa, bem ativa!
Keri escreveu um livro chamado The Guerilla Art Kit (já faz um tempinho, é de 2007, e eu curto muito). Nele, ela conta o que é arte de guerrilha e ensina como deixar uma mensagem na sarjeta, num ponto de ônibus, atrás de uma pilastra ou na sola do sapato de alguém.
Guerrilha é um tipo de luta por uma causa, em que os combatentes ficam escondidos, atacam de surpresa, movem-se bastante no campo de combate e promovem ações dispersas.
A arte de guerrilha também é assim: anônima, acontece no espaço público e intervém nos lugares por meio da criatividade, para provocar nosso jeito de pensar sobre alguma coisa.
Pode ser um grafite, uma placa, uma performance, uma instalação, tem vários formatos. Pode ser para deixar algo mais bonito, para questionar uma ideia ou situação, para interagir com a paisagem ou com as pessoas. Aprendi algumas estratégias maneiras com a Keri no meu livro-kit.
Vou ensinar algumas para vocês:
1. Bomba de sementes
Uma bomba que espalha flores em vez de barulho, que enfeita e não machuca.
Primeiro pegue algumas sementes, pode ser de uma planta da sua casa ou de uma fruta que você comeu (mexerica e jabuticaba são ótimas para isso, germinam que é uma beleza). Depois, faça uns bolinhos de terra molhada com elas. Enrole bem redondinho, como brigadeiro, e jogue onde você achar que falta verde. Um canteiro triste e pouco habitado do prédio, um vaso de repartição – aqueles quadradinhos de terra entre uma mão da rua e outra –, uma rotatória… enfim, há muitas opções de lugares.
2. Pequenos alertas
Você limpou bem as orelhas hoje antes de sair de casa? E os óculos, também estão bem limpos? Para dar uma ajudinha a quem anda por aí distraído, sem reparar na boniteza das pequenas coisas do caminho, a ideia é deixar pequenos alertas de poesia. Recorte vários pedaços pequenos de papel e escreva pequenos alertas: “Já tinha visto este bueiro antes?”, “Repare no reflexo do edifício envidraçado azul no fim da tarde”, “Aonde leva esta portinhola?”.
3. Mapa do entorno
Escolha uma região que você conhece bem, pode ser um bairro, um condomínio ou a sua escola, por exemplo. Desenhe um mapa desse lugar. Lembre-se de incluir tudo que achar mais interessante e deixar indicações como “Bom lugar para conversar”, “Bebedouro com água gelada”, “Minha árvore predileta”, “Pão na chapa delícia”. Pronto! Não precisa ser perfeito, só precisa dar a entender o lugar. Agora escolha um ponto para fixar o mapa e marque um “Você está aqui” no ponto correspondente do desenho. Faça vários desse tipo para lugares diferentes da cidade.
Para finalizar, inventei minha própria ação. Chama-se “Adote um cantinho”. Primeiro você escolhe um cantinho num lugar onde você passa todos os dias. Depois, você vai fazendo coisas para transformar esse cantinho, dia a dia. Coloca um vasinho de planta, faz um desenho com giz, tira uma foto, deixa um bilhete. Coisas bem sutis. E vai registrando e vendo se outras pessoas reagem.
Esse vai ser o seu cantinho e não mais um mero pedaço de chão! Quem sabe alguém não adota ele também? Adotei um cantinho lá no prédio do Itaú Cultural. Quer me achar? Deixa um recado na esquina e boa sorte, companheiro!
A gente se vê na guerrilha!
Tcha-au!
Fotos: Ana Paula Campos